segunda-feira, 23 de abril de 2012

Os meus Livros



A minha infância,a minha história de Vida,foram e serão sempre a minha predilecção de memorias vivas.
Eu,sempre me achei a criança mais feliz do Mundo.Cresci rodeada de carinho,de mimos de simplicidade.Sempre vivi rodeada de atenção,mentiria se dissesse que tive uma infância triste ou enfadonha, apesar de ter perdido o meu pai muito cedo,quem me educou
até à adolescência conseguiu na perfeição preencher essa lacuna.Cresci num aconchego tão grande,numa realidade tão pura e serena que jamais até essa fase,um adulto me desiludiu.Sempre me passaram a mão na cabeça e me fizeram acreditar que o futuro,me guardava coisas muito boas.Eu acreditei.A minha infância, não foi igual nem parecida á de ninguém, porque foi especial e à parte das demais.Única e inesquecível apenas minha. Perdoem-me,mas não gosto sequer de a identificar, como sendo parecida à de alguém...sinto-me a perder a identidade.
Tive imensas bonecas,brinquedos de todas as variedades,cores e materiais,naquela altura não era muito comum assim ser,mas eu fui uma sortuda confesso.Houve um período da minha infância, em que o meu padrinho e tio paterno, me oferecia todas as semanas um livro da Anita e eu, delirava tanto mas tanto,com esta prendinha de sábado á tarde...por sua vez uma tia do meu pai(endinheirada)não se cansava de me oferecer bonecas, mobílias e conjuntinhos de pratos e panelinhas.Num dos quartos da casa da casa onde eu vivia com os meus avós maternos,havia um móvel enorme com várias prateleiras fundas,era lá a minha casinha de bonecas...cada divisão um quarto,uma sala,ou a cozinha... e a escola,essa também lá estava.A nossa casa,era uma casa maravilhosa e deslumbraste, lá aprendi a construir e a entreter os sonhos que já me visitavam vezes sem conta e a controlar o desejo de crescer e ir mais além.Cresci,acompanhada essencialmente por adultos,acompanhava as suas actividades diárias e participava em muitas com entusiasmo.Lembro-me que quando fui para a escola primária,já conhecia as letras e os números e de como isso enchia de orgulho os meus avós,lembro-me do meu primeiro caderno e do dia em que o comprámos...eu e a minha avó...destinava-se as ir treinando as letras...que ela lá me ia ensinando dia-a-dia...lembro-me de ter detestado a letra "e".Lembro-me do primeiro dia de aulas,e do beijinho que ela me deu antes de entrar na sala de aula,lembro-me das outras crianças e das horas de almoço diárias no refeitório,em que um menino ficava sempre,ao longe... "posto de parte" chamava-se Nuno e dizia-se que era muito pobre...não sei...mas mais tarde percebi... "lá muito triste ele estava"as razões nunca soube,apenas me lembro da preocupação, da nossa professora em ajudá-lo.Lembro-me das peças de teatro em que participei,lembro-me das dezenas de livros que li,dos três dicionários que recebi de presente, oferecidos pela Junta de Freguesia,no final da quarta-classe por ter sido considerada "Aluna de Excelência".Lembro-me do dia da entrega do "prémio" de termos saído para o recreio,de terem chegados uns "senhores" e depois,de termos sido chamados pela professora,e da coincidência de ser a primeira a entrar...e ouvir a directora da escola dizer em voz baixa..."É esta...esta é muito boa aluna" e lá ganhei o conjunto de dicionários que guardo até hoje,como que num pedestal,estão desactualizados...mas não na minha memória.Lembro-me do livro que ganhei numa corrida de ovos em cima de colheres..."Heidi nos Alpes"  e de um outro "A Fada Oriana" ganho também numa corrida de sacos de serapilheira...por livros eu conseguia tudo...mais tarde percebi isso,no dia em que enfrentei a escuridão de um subterrâneo,onde estavam guardados à imenso tempo cestos e cestos de livros e revistas antigas,nem as teias de aranha me seguraram, ou as carradas de pó mal-cheiroso...eram só cerca de dois mil...e como eu os "devorei" atentamente,orgulhosa da minha descoberta...O "Meu Tesouro" de menina, ou parte dele, está até hoje comigo,no sótão de minha casa,a fazer companhia ás velhas bonecas e outras recordações de então,de mão-dada com outras,que entretanto fui amealhando.Desculpem se não vos falei muito de crianças...dos meus amigos...não tinha muitos...não tinha mesmo.Mas tinha-os a eles... os meus livros as minhas palavras,as minhas letras,os meus personagens,as minhas histórias.
Nunca me faltou nada,carinho,comida, companhia ou afazeres.
Amor, só não o tive em demasia,porque sempre tive a preocupação e a capacidade de o "usar" na sua plenitude.
Nunca me faltou nada...mas hoje falta!!!
Faltam-me pessoas e emoções que perdi... e falta-me a magia daquela altura,em que fui tão feliz a ler e a viver... literaturas antigas.



8 comentários:

  1. Crianças fomos, diferentes talvez. Mas a essência daquele menino, ou, neste caso, daquela menina permanecem nos nossos corações. Aos contos foram acrescentados pontos, aos sorrisos, motivos. À vida, um plano.

    Um grande beijinho.

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  2. É muito giro o seu interesse por livros desde muito novinha. Eu só descobri o prazer da leitura recentemente e tenho pena de não ter começado a ler à mais tempo.

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  3. Sabes, penso muito nas nossas conversas, de como falávamos das alegrias e tristezas da nossa vida, como me contaste em confidência algumas coisas da tua infância e da tua vida já adulta,como eu fiz o mesmo, mas agora ao ler os textos que escreves consigo visualizar e textualizar melhor tudo aquilo de que falámos e compreendo também melhor toda a tua maneira de ser e estar na vida. Algumas das pessoas que amámos e que agora estão nos nossos corações e lembranças podem já não estar entre nós, mas por favor nunca percas a magia. Na infância tal como agora precisamos sempre dela, porque temos de conseguir passar aos nossos filhos e netos todas as nossas vivências e esperar que mais tarde eles possam fazer o mesmo. Ah e gosto muito de ti, tal como és. Nunca mudes. beijo MJ

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  4. Obrigada por partilhar connosco as suas histórias de vida,são muito bonitas e ficam mais ainda contadas por si.Sara`*

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  5. Não foi nada querida. Foi um prazer lhe passar este link de perguntas, para que possamos nos conhecer melhor. Sobre seu texto ... a leitura faz parte de poucos, mas quem a prova vai a mundos que ninguém poderia imaginar.

    Beijos e abraços.

    A Sonhadora.

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  6. Olá Carlinda,

    Que bela infância! Rodeada de amor e da magia dos livros.
    Por isso se expressa tão bem.
    Sempre perdemos algo na vida, mas as boas lembranças permanecem
    eternas e preenchem as lacunas deixadas pelas inevitáveis perdas.

    Beijos.

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  7. Parabéns pelos excelentes textos e capacidade de estruturação das ideias,pelo correcto uso dos adjectivos e por todo o conjunto de frases simpáticas. Maria T.pmás

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