quarta-feira, 11 de abril de 2012

Podia ser "Eu"


Pobre mulher estás  triste … e perdida nesse olhar
A tua pele está escura e seca pelo Sol que te queimou
A tua miséria é extrema... a tua solidão sofrida... a tua beleza eterna
Mulher és fonte de símbolo  e de inteligência  … de recados vários
Deixa-me perguntar-te a tua dor e o que te empurra e motiva …ainda
Poderia ser eu a sofrer dessa angústia escrava …e vã...podia ser eu ...sim
O teu penar é humilhante …não para ti... mas a quem te ignora o amanhã
Quero entender-te e ajudar-te a conhecer mais… a ambicionar outras presenças
Ninguém te estende uma fatia de pão …e tu olhas a fila dos que nada têm…é imensa…Concordo
Sim… sei não escolheste a tua porta… e a poeira sujou-te o tapete.Limpaste e voltaste a sacudir...
Só te visitou gente sem rumo... cuja única companhia era a fome e o desespero
Não percebo porque não te vi antes…estavas  ai certamente… apreciando o Mundo
Atónica retraída e expectante …peço desculpa nem reparei …podia ser eu…”Eu” afinal
Ai…ai a minha consciência...e esta sociedade que se mata em troco de nada…por nada ser
Sim os dias andam e voam... dançam e entrelaçam-se e tu parada...esperando paciente... demais
Esperando e aceitando o destino como única escolha …possível e indomável
Olha... o Mundo não te cabe na mão… tão pouco no coração
Finges que nem te lembras …mas as rugas e teus traços recordam-to...a dor convive contigo
Gostas de ver as crianças brincar á tua porta … e como elas te ouvem
Ouvem-te como se jamais tivessem escutado outra história…outra canção
Estão naturalmente sujas… mas a sua inquietude sempre as ajuda a brilhar
Beijas-lhe o rosto… afagas-lhe o cabelo e exclamas com  a alegria própria de uma mãe coragem
“Brinquem…vão brincar! Cuidado não se magoem!…
Estranhei não te ter ouvido chorar…não te teres dado por vencida…
Duvidei até que ainda acreditasses …como o Mundo é intrigante e injusto
Disseram-me que não aceitas-te aquela tarde… aquela em que uma criança linda te olhou
Não pudeste ajudar… ”Mamã “ esta palavra continua a soar no teu ouvido
Os seus bracitos erguidos na tua direção…muitas  vozes e uma cancela de madeira…fechada
Mulher qual é a tua maior certeza…o segredo que guardas na garganta
Aquele que não consegues aceitar …então vive… conta e reconta a tua história orgulhosamente
Eu aprecio a tua imagem a tua capacidade de luta e… os teus olhos
Enquanto procuras repostas ...os teus olhos modificam imagens e constroem ideias
As leis e as regras que te revoltam …não te alimentam…mas criticam-te e negam-te auxilio
Procura dentro de ti uma palavra perdida um suspiro de alento...
Uma réstia do teu corpo saudável…a Vida escapasse-te entre os dedos
A mão que te segura não te detém…porque será
E eu aqui estou… a tentar contar a tua historia o teu viver…mas… podia ser “Eu”

4 comentários:

  1. Comovente e maravilhoso. Mais palavras para quê? Seriam supérfulas!! MJ

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  2. Adorei simplesmente.Sandra faleiro

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  3. Olá Carlinda,

    Você deixou um belo comentário no meu post "A dor dos outros".
    Adorei.

    Este seu texto é emocionante. Tocou-me, pois poderia ser EU...


    Beijos.

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  4. Adorei poderia ser eu,alguém dirá SOU EU aproveitando muitas situações escritas aqui como metáforas emocionante bj

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