domingo, 6 de maio de 2012

Mãe...Sou como que...a outra metade de ti



Estou aqui e sou como que... a outra metade de ti
De ti  nasci, entre sorrisos e bordados
Fruto de um Amor sincero,jovem,liberal, que se perdeu com a morte
Tu,jovem mulher entregue ao destino, lutaste... e sobreviveste a custo.Estou certa disso.
Jamais conseguirias prever os espinhos e as ervas daninhas, que nos evadiriam o jardim
Tal qual margarida, como o teu nome...Margarida
Frágil, doce porém incansável e árdua como a tua Vida, o é também
A tua existência,tem sido como um mar em fúria
Em lágrimas,em sofrimento.em desnorte constante...em desalento em revolta
Muitas vezes quieta,ansiosa,mas nunca entregue e resignada
Continuas a lutar, até que a tua força o permita...
Confesso que nem sempre te entendi... revoltei-me inúmeras vezes...
Vezes de mais, hoje percebo-te bem melhor
Tu Mãe,de alma rasgada pela da perda de um filho
Em pranto encontraste os dias que te esperaram absortos,em desilusão
Nesse dia triste das nossas vidas,em vez de te entregares
Zangaste-te com a dor imensa,que jamais quiseras sentir...lutaste e levantaste o olhar
Enfrentaste,como só uma mãe de outros filhos o consegue...tal qual guerreira
Sei que imaginaste o futuro sem ele "o teu menino" puro,dedicado,trabalhador honesto
Que te foi extremamente doloroso fazê-lo, e que ninguém te ajudou
Eu sei e admito as culpas que me cabem em sorte,mas não as escolhi...apenas as assumo
Perdeste,talvez o mais integro e autêntico dos teus quatro filhos
Deus levou-to para junto dele...sem a tua permissão,arrancou-to sem avisar
Pensámos e reflectimos dias a fio,sobre tão horrendo acontecimento...
Debate-mo-nos com inúmeras dúvidas e perguntas..."Porquê se era tão jovem,porquê?"
Que Deus é este, que justiça é esta...porquê ele?
E tu mãe,tantas vezes te perguntas-te...porque não,eu...Tantos porque e porquês Mãe!
Sei que o guardas contigo,em cada instante, em cada suspiro
Sei que ele,está lá em cima e que te protege ainda, à distância do toque tão desejado
Mãe, tu que perdeste um filho que embalaste e amaste ...
Um filho tão desejado e tão sofrido... Guarda-nos contigo agora...
Não desistas de nós... recorda todos os restos de ternura,todas as fotografias
Constrói agora a tua história,o teu puzzle...sabes do que te falo Mãe...
Lembras-te das histórias que me contavas ao adormecer...
Falavas-me das flores,da natureza, de famílias e ...de mães
Jamais esquecerei as tuas histórias...recheadas de palavras  que me faziam acreditar
No poder de uma família,na força da união e na capacidade que tem o Amor de uma Mãe
Aprendi Mãe ! Sou uma Mãe dedicada,à imagem do teu ideal
E como lamento não ser uma excelente filha...sinto-me corroer por dentro,acredita
Mas a Vida,não me o ensinou...isso não consegui aprender Mãe...guardo uma dor imensa
Porquê Mãe?Porque foi que tu não assumiste as rédeas da história...
Porque hoje Mãe, compreendo tudo muito melhor...e dói-me horrores
Então Mãe,peço-te acredita...e tenta de novo...ajuda-nos a tentar e a conseguir,Mãe...
Eu sei que consegues...porque eu sou metade de ti!
Sei que te orgulhas muito de nós das tuas meninas...
Mas sei,que nem sempre te sentes com espírito para continuar.Continua Mãe
Sei que não sou a melhor filha,mas sempre tive a capacidade de te escutar e ainda o faço
Mãe,as cicatrizes que guardo,estão vincadas e não deixam que eu esqueça histórias antigas
Sei que as minhas irmãs,também não são as filhas que sonhaste ter,mas Mãe...mas
"Onde foi que eu errei?"Foi ai Mãe...ai mesmo...por isso tantos "mas"
Sei que aVida não te sorriu,não te ajudou
Mas talvez tenhas errado demasiadas vezes...Mãe
Inconscientemente acredito, mas...tais atitudes afastaram-nos
Mudaram o nosso rumo...tu devias ter arriscado a mudança...
Arrisca Mãe...assume-te ainda há tempo...Nós somos a outra metade de ti


Homenagem à minha mãe...Obrigada Mãe,pelo direito à Vida!

6 comentários:

  1. Olá Linda,

    Li o seu texto, com muita atenção, e na íntegra, como sempre o faço.
    Desabafos de uma filha, em homenagem à mãe.
    Estas linhas revelam-nos, uma quantidade de acontecimentos inesquecíveis e todos interligados. Parece que não, mas são. As permissas encaixam-se, no tabuleiro psicológico das vidas.
    A Margarida, sua mãe, sofreu decerto, involntariamente, a intromissão de algumas ervas danosas e daninhas, que lhe deterioraram o jardim, a alma.
    Evidente, que essas invasões, comprometeram e prejudicaram o vosso curriculum familiar, mas estamos sempre a tempo de as arrancarmos.
    Refere, também, a perda de um filho, portanto de um irmão seu, o que está provado, cientificamente, como o maior e mais monstruoso desgosto, que uma mulher pode ter e sentir.
    Não há nada nem ninguém que o substitua, mas as âncoras, passado algum tempo, começam a surgir, e, naturalmente, as mulheres a elas se agarram, não para não morrerem, porque isso aconteceu no momento da perda, mas para poderem sobreviver.

    Quanto aos comportamentos, seu e das suas irmãs, nunca é como queremos, mas só mais tarde reconhecemos, quando somos mães.
    Afinal, agora que somos(é) mãe, que parimos com amor e dor, entendemos muto bem o sofrimento de tantas Margaridas e tantas Rosas, nos jardins não do Éden, mas nos jardins da Terra.

    De nada vale, auto flagelarmo-nos, agora.
    A Linda é uma excelente mãe, não é?

    NÃO RESPONDA. OS SEUS OLHOS HÚMIDOS JÁ ME RESPONDERAM.

    PARABÉNS LINDA, PELA MATERNIDADE, DOM QUE SÓ NÓS TEMOS.

    Beijos de muito carinho e apreço.

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  2. Concordo plenamente com a LUZ. O teu texto fala nas entrelinhas do que foi e poderia ter sido a vossa vida, mas erros cometemos todas ao longo da nossa, o que resta e é importante são as lições que daí retiramos e tu sempre foste e és uma excelente mãe. Como"Filha(s)" achamos sempre que podíamos fazer mais; e se calhar podíamos, mas as situações que se nos deparam diáriamente nem sempre deixam. O que importa no fundo é o Amor que temos uns aos outros. beijo mj

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  3. Palavras para quê?
    A Luz disse tudo e muito bem, fiquei muito emocionada, pois tambem sou mãe e sofro por dar um bom caminho e nem sempre é facil, umas vezes não me entendem outras eu não os entendo...é dificil ser mãe e ser sempre correcta em todas as decisões que tomamos....mas mãe é mãe e fará sempre o que julga ser o melhor para os seus filhos.

    È muito nobre da sua parte Linda admitir os erros, mas ainda está a tempo de mudar o fim da historia da vossa familia...força e coragem ..
    Bjs

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  4. Linda,

    Pretendo corrigir, Involuntariamente, e não como escrevi no meu comentário, onde falta uma letra por deficiente digitação.

    Beijo de estima.

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  5. Um texto muito comovente. Quero muito ser mãe um dia. Adorei:)Beijos

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  6. Olá querida Carlinda,

    Uma homenagem e desabafo emocionantes.
    A perda de um filho para uma mãe representa uma dor
    infinita e intraduzível.

    Na convivência familiar nem tudo se desenvolve conforme desejaríamos. Sempre nos sentiremos culpados de alguma coisa.
    Este sentimento existe exatamente pelo muito que amamos.
    Sempre nos sentiremos devedores de algo mais, mas sempre fazemos
    o que está dentro de nossas possibilidades. Muita coisa independe de nós.

    Perdoar e perdoar-se é muito importante para que reine a paz e
    o entendimento.

    Beijos.

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